Tenho refletido o quanto precisamos, nestes tempos sombrios o qual nosso país e o mundo vive, de acolhimento. Todos nós, sem exceção, passamos em algum momento por alguma dificuldade, tristeza, decepção, insegurança, medos, dores e incertezas na vida. O quanto que acolhemos os nossos sentimentos perante a nossa vida? Como que nós podemos aprender a nos acolher primeiramente? Como que estamos acolhendo uns aos outros em suas dores e momentos vividos e compartilhados?
O acolhimento é um assunto muito abordado com quem lida com a saúde das pessoas, quem trabalha na área da saúde convive mais com esta abordagem, pela necessidade aparentemente maior, digamos que urgente, da humanização da saúde. Então, o acolher está diretamente ligado à humanização das relações. Quem assiste pessoas em situação de vulnerabilidade lida também diretamente e constantemente com conceitos e práticas de acolhimento.
Mas, por que não trazemos ainda este assunto para a nossa vida pessoal? Se nossas relações humanas tanto necessitam de acolhimento. Se acolher é um exercício que podemos começar a fazer conosco. Tenho refletido maneiras de me acolher, isto requer aceitação e entrega.
Ao meu ver, a acolhida é uma das formas de amar. Quantas vezes na vida eu fui acolhida? Por meus pais, por familiares, por amigos e até desconhecidos em situações diversas. O acolhimento pode ser um ato simples: um abraço, uma palavra amiga, uma escuta afetiva, um sorriso sincero, compartilhar uma experiência de vida ou um conselho amoroso. O quanto que já acolhemos alguém sem perceber? Como que estamos recebendo o que o outro tem para nos oferecer? O acolhimento requer abertura. Ninguém acolhe com o coração fechado para o outro, para a dor do outro. Para aprender a acolher é preciso transformar algo dentro da gente. É preciso perceber o outro. Quem sabe, desenvolver mais a nossa empatia nos auxilie nesta empreitada e nos desperte mais para esta forma de amar.
Acolher é ser abrigo para alguém. É abrir o seu coração, doar o seu tempo e o seu olhar para alguém que está precisando. Para mim, o maior desafio do acolhimento é a escuta livre e inteira. Livre de qualquer julgamento e com inteira presença do ouvinte. Não é uma tarefa fácil desenvolver esta escuta humana. Compreender o outro, inteiramente, para, quem sabe, oferecer uma boa acolhida. É preciso sensibilidade e respeito. Precisamos, como sociedade, desenvolver isso.
Ao escrever agora, lembrei do texto do escritor Rubem Alves chamado: “A Escutatória”…
“Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil […] Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. Ouçamos os clamores dos famintos e dos despossuídos de humanidade que teimamos a não ver nem ouvir. É tempo de renovar, se mais não fosse, a nós mesmos e assim nos tornarmos seres humanos melhores, para o bem de cada um de nós. É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra.”
– Rubem Alves.
Eu sou uma pessoa que gosto de falar, quem me conhece sabe rs. Para acolher, eu preciso aprender a escutar inteiramente. É um desafio. Pois, como diz o autor citado: todos queremos dar o nosso “palpite melhor”. Mas, nestes novos tempos de maternidade que estou vivendo, tenho sido acolhida de forma tão bonita por pessoas tão acolhedoras, que nem conviviam tanto comigo, pouco me conheciam verdadeiramente e me ensinaram o tanto que o acolhimento é um ato de profundo amor. Isso me faz refletir o quanto que precisamos urgentemente acolhermos uns aos outros. Acolher pode ser simples. Vamos refletir e aprender a acolher?
Fotografia em uma trilha dentro da Floresta de Pinheiros, em Monte Verde-MG – 2015.