Olhos nos olhos

Estes dias tenho refletido sobre o simples ato de olhar nos olhos. Quem me conhece sabe que para mim isso é essencial. Mas, surpreendentemente estes dias isso tem se apresentado pra mim como algo que causa estranhamento nas pessoas.

Uma pessoa querida me falou, numa conversa descontraída em família, que gosta de ter contato visual com as pessoas ao conversar, que até tem um pouco esse contato visual, mas segundo a pessoa: – Não assim como a Vanessa que olha no olho da gente de um jeito que a gente nem sabe pra onde olhar, mas eu tento. Meu esposo riu e disse: – Eu digo isso pra ela, mas ela não percebe. Demos muita risada, pra mim isso é muito natural. Uma outra pessoa poucos dias depois comentou comigo novamente que eu olho diretamente nos olhos da pessoa e isso não é uma característica comum. Isso me fez refletir: Mas, afinal para onde vocês olham quando conversam com uma pessoa? Para o chão? Eu gosto é de olhar nos olhos mesmo. Mesmo que meus olhos não estejam ou sejam tão reluzentes, mas tudo que eu tenho a oferecer naquele momento presente é, no mínimo, este olhar profundo que traduz quem eu sou. Como falarei com alguém olhando para o céu? Para uma árvore? Para um cachorro? Se o diálogo está sendo mantido com uma pessoa à minha frente? Quando foi que o simples ato de olhar nos olhos tornou-se uma atitude intrigante? Eu perdi esta parte e agora me encontro entre os seres extra-terrestres que olham nos olhos e incomodam.

O que percebo é que as pessoas tem receio, ou medo mesmo, de revelar quem elas são, pois os olhos não mentem, a pessoa pode mentir mas os olhos dela não.  Já me disseram que as pessoas podem se sentir intimidadas, envergonhadas, ou até muito importantes pelo simples ato de olhar nos olhos delas. Eu me lembrei que uma vez a pessoa que me selecionou para um trabalho me disse bem depois que eu fui a única candidata à vaga que, na entrevista, olhou nos olhos dela durante toda a entrevista e isso foi decisivo para a escolha (Eu era uma jovem de 19 anos e era minha primeira entrevista de emprego). Mas gente, sério mesmo que as pessoas acham melhor que falem com elas olhando pro horizonte? Ou, olhando pra alguém passando ao longe, ou ainda, pasmem, que fale andando? Conheço gente que fala andando, isso mesmo, indo embora, fala em movimento corporal demonstrando que quer partir. Pois, eu não sei falar partindo não, ou olhando pro look que a pessoa está vestindo. Desculpem, mas continuarei olhando nos olhos. Não tenham medo, eu não mordo, não sou iridóloga e sou míope.

Quem não tem colírio use óculos escuros mas tire pra falar comigo, por favor. Se uma pessoa me esconde o olhar dela, tudo bem, vou-me tranquila e feliz olhar pro horizonte, pro céu e pro mar. 

“Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo”. (Leonardo da Vinci)