O vazio, um espaço insistente que toda uma sociedade corre imediatamente para preencher. Seria o vazio apenas um devaneio filosófico nosso ou seria a manifestação do nada ou da própria existência do ser no mundo, tão difícil de suportar? Quanto mais se preenche mais se expande e mais visível torna-se a incapacidade humana de sentir, de observar-se e de se aceitar. Os consultórios estão lotados de gente querendo descobrir a origem de seus vazios. Enquanto houver disposição para preencher-se haverá ilusão de preenchimentos externos à si. A maturidade que o envelhecimento traz tornou-se uma grande ameaça. É antagônico. O mesmo ser que não quer morrer tem pavor de ver-se envelhecendo… Ser o que se é, parece um fantasma sempre à espreita até que a morte chegue de repente. Melhor mesmo é “ser o outro” e jamais ter que lidar com o nada, com vazios ou espaços dentro de si. E assim as pessoas vivem em ciclos viciosos que as possibilitem esquecer, nem que seja por pouco tempo, a sua condição humana, imperfeita e solitária, se esquecendo também que a vida é agora.
Como diz a canção do mestre Gil: “É sempre bom lembrar, que um copo vazio está cheio de ar”
✍ Vanessa Pinheiro
15.02.23
🌖 Lua Minguante

Arraial do Cabo, 2022.